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Câmara Municipal de Montalegre
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Orlando Alves | 1 Ano de Presidente

23 Outubro 2014

Na semana que carimba um ano à frente da presidência da Câmara Municipal de Montalegre, Orlando Alves fala em dever cumprido. Uma entrevista de fundo onde são abordados os principais temas que marcaram o primeiro ano de mandato como presidente da Câmara. Simbolicamente, o executivo decidiu assinalar a data com uma visita a um lar carenciado, situado no lugar de Nogueiró, freguesia de Ferral, onde residem oito pessoas sem as mínimas condições de habitabilidade.


Quando olha para este primeiro ano de mandato, o que lhe ocorre dizer?
Orlando Alves (OA) - Soube estar à altura com aquilo que me era exigido. Cumpri com os objetivos a que me propus e, sobretudo, concluí e dei início a todos os propósitos e promessas que constavam do compromisso eleitoral com que eu e a equipa que me acompanha nos apresentamos às eleições autárquicas de 2013.
 
Uma das linhas orientadoras do programa é o retorno à terra. Nesse sentido, lançou para o terreno dois projetos: a valorização da batata de semente e a aposta nos pequenos ruminantes. Está satisfeito com o andamento destas iniciativas?
OA - Estou muito satisfeito. Quer a propriedade agrícola quer a floresta têm um grande potencial e uma função social a desempenhar. Considero até criminoso que haja tanta terra arável, abandonada, e onde muita dela já nem se sabe quem são os seus proprietários, e com o país a estar nesta situação humilhante. Uma situação de "pelintrice" vergonhosa e que ninguém se preocupa em produzir aquilo que as bocas dos portugueses precisam para sobreviver. Estamos numa situação de mendicidade absoluta e vergonhosa "pelintrice" a que urge por cobro. No meu entender, não há outra forma que não seja virarmo-nos para os "tesouros" que estão escondidos dentro do nosso espaço: potencial agrícola e florestal. Há muita gente que considera que isto é lirismo. Será, mas a verdade é que eu só vejo empresas a fechar, não só em Portugal como pela Europa fora.
 
Prometia apoio a todos os empresários que decidissem investir nos parques industriais (Montalegre e Salto) do concelho. Oferecia terreno e construía o pavilhão a quem garantisse 10 a 15 postos de trabalho. Alguém bateu à porta?
OA - Não! Nunca ninguém apareceu nem aqui e, estou certo, em nenhuma zona do interior do país. Porventura, é o espaço mais recomendável para o ser humano viver e ter qualidade de vida e é, ao mesmo tempo, infelizmente, um espaço que está a definhar a olhos vistos.
 
Ficou satisfeito com a revisão do PDM (Plano Diretor Municipal)?
OA - Muito satisfeito. O PDM é hoje um instrumento que não tem as restrições que a primeira versão continha. Hoje em solo rural é praticamente tudo permitido, cumprindo, naturalmente, algumas regras.
 
Uma das apostas deste ano foi avançar para o programa "(co) empreende" onde foram escolhidos mais de 70 projetos. De que forma o concelho pode potenciar este interesse e aplicá-lo no seu desenvolvimento?
OA - Quero felicitar todos estes projetos. É gente jovem. São jovens que têm a vontade de se fixar à nossa terra. Isto é fundamental e só por isto, o município tem que estar ao lado deles. São portadores de ideias extraordinárias e ricas que são potenciadoras de serem traduzidas em projetos concretos. Nem todos irão vingar, mas o que vingar é tudo lucro. O município de Montalegre está muito contente e muito honrado por ter feito esta parceria com a Universidade do Minho. São ideias que vão ser trabalhadas durante dois/três anos, onde os projetos vão ser estruturados e que podem ter "janelas de financiamento" com o novo Quadro Comunitário de Apoio (QCA).
 
Sabendo que não vai ter 1 euro para betão, como tem olhado para o novo QCA?
OA - O que para já se sabe é que o dinheiro do quadro "2014-2020" será canalizado, preferencialmente, para as universidades. E muito bem! Já era isto que devia ser feito há muitos anos. Vai também ser canalizado para as empresas e aqui já estou de pé atrás. Já no passado a experiência não correu bem, onde apareceram empresários sem escrúpulos e gabinetes a manobrar este "bolo" de muitos milhões de euros para criar, porventura, desmandos.
 
Um dos dossiers que marcou este ano de mandato foi a estrada Montalegre-Chaves. A meio está erguida a "Ponte da Assureira" que a classificou como um «monumento ao desprezo». A notícia teve impacto na comunicação social mas continua tudo na mesma. Como pensa resolver este impasse?
OA - Esta situação não se resolveu porque quem manda está lá longe, em Lisboa, e não quer saber de nós. Andamos a eleger governos que descuram a regionalização. Se estivesse instituído um governo regional, este nunca iria esquecer a estrada de Montalegre a Chaves. Isto é desonroso e enquanto continuarmos assim, não vamos a lado nenhum. O que posso dizer é que a estrada, na parte que toca ao município de Montalegre, vai ser feita. Não vamos optar pelo traçado novo, mas vamos, até ao limite do concelho (por Meixide), introduzir os melhoramentos que a estrada necessita. Esta é a promessa que aqui fica! No entanto, eu ainda vislumbro uma luzinha muito ténue, lá muito longe, a anos luz de nós, que pode vir a alumiar todo este processo. Se isto acontecer, iremos encaminhar a estrada para a ponte que está há muitos anos a aguardar, como um noivo que está à espera da sua noiva. Vamos ser pacientes. Nada de pressas. Fiz tudo aquilo que me competia fazer. Tivemos um amplo espaço nos órgãos de comunicação social do país, denunciando toda esta vergonha. Temos um Estado umbiguista, excessivamente centralista que nos corredores do poder se esquece que existimos.
 
Este ano ficou marcado pela estreia de dois desígnios de referência: Volta a Portugal em bicicleta e "Semana do Barrosão". A par destes, a prova inaugural do Campeonato do Mundo de Rallycross. Saiu satisfeito com o impacto destes eventos?
OA - Sim. O Mundial de Rallycross foi um sucesso e vai continuar. A "Semana do Barrosão" foi algo que nasceu muito bem. Vai continuar e tudo iremos fazer para ter a visibilidade que o gado barrosão merece. A primeira edição foi de êxito retumbante e absoluto. Em relação à Volta a Portugal em bicicleta foi uma promessa eleitoral que está cumprida. Foi uma aposta que ficou consolidada no primeiro ano. Trazer a Volta ao cimo da serra do Larouco, foi projetar turisticamente Montalegre e toda a região do Barroso. O êxito foi de tal forma que em termos de reportagem televisiva, foi a etapa mais visionada pelos telespetadores da televisão portuguesa. A seguir ao final da etapa na capital do país, em Lisboa, foi a que teve maiores referências. Foi de tal forma impactante que, já posso anunciar, em 2015 voltaremos a ter um final de etapa na serra do Larouco, tal como a prova da Volta a Portugal do Futuro. Foram acontecimentos de grande dinamismo e de grande projeção mediática.
 
A serra do Larouco, como miradouro por excelência, foi muito promovida ao longo do ano. De que forma pode ser rentabilizada turisticamente?
OA - O êxito retumbante dos eventos que o município desenvolve e programa resulta da parceria espontânea que envolveu os agentes locais, nomeadamente a área da restauração e da hotelaria. Chegará um dia o vislumbre de ideias novas para a serra do Larouco. Projetos, porventura, que não estarão alcance de qualquer bolsa. Deixo aqui o desafio aos nossos emigrantes. Há muitos que têm uma grande capacidade financeira. O Larouco tem um potencial enorme. Basta pensarmos no Inverno onde é possível fazermos pistas de neve, criar espaços para o gelo e para a patinagem. Eu não tenho dúvida nenhuma que um bom hotel, no cimo da serra do Larouco, seria "ouro sobre azul" para a nossa terra e para a região. Quem investisse lá, arranjaria, em mim, um "braço de força" para o acompanhar e ajudar a abrir as portas todas que têm que ser abertas para que esse sonho possa tornar-se em realidade.
 
Este ano arrancou com a reorganização administrativa na Câmara Municipal. Entre as várias operações, o avanço para o balcão único. Pelo meio, a inauguração do Espaço do Cidadão em Salto e outro em Montalegre para abrir em breve. Qual o ponto de situação desta matéria?
OA - A reorganização administrativa está em marcha. Foi iniciada com a desmaterialização procedimental. Eu próprio, que era um inepto e que não estava nada enfarinhado em matéria de informática, tive que aprender e fazer o meu caminho. Hoje todos os assuntos que são tratados internamente já não têm papel. Foi um esforço significativo de adaptação como foi profundamente enriquecedor. Até ao Natal, vamos fazer o esforço de adaptar fisicamente uma parte do edifício para instalarmos o balcão único. As pessoas terão maior conforto e uma melhor recetividade no tratamento dos assuntos. Ao lado será instalado o Espaço do Cidadão. Houve aqui uma lógica de agarrar os tempos do futuro, preocupação agarrada por todos os funcionários da Câmara, facto que saúdo porque tive de todos um grande apoio e uma grande abertura para agarrarem todas estas nossas ideias.
 
Neste primeiro ano de mandato, tornou-se no Presidente da Câmara que acabou com o salário mínimo dos funcionários...
OA - Tenho consciência que nenhuma casa funciona bem se os seus funcionários não forem acarinhados pelos gestores. Tendo consciência disso, uma das primeiras coisas que fiz foi acabar com a vergonha do ordenado mínimo nacional que era o sustento de 78 pessoas. Foi uma promessa que foi cumprida. A ideia foi retirá-los da indignidade e da vergonha de levarem para casa 400 e poucos euros. Logo de uma assentada foram todos aumentados. Uns 50, outros 70, outros 80 e outros até 200 e tal euros!
 
O ano ficou também marcado pelo "bater de pé" contra o eventual encerramento de serviços, entre eles a repartição de finanças de Montalegre. Como recorda estes episódios?
OA - O que o governo tem dito ultimamente, e isto vale o que vale, é que nenhum serviço será fechado. Estou convencido que é verdade. Houve uma deriva perigosa de pensar mal o país. Tardiamente aperceberam-se que se queremos o interior do país povoado, não lhe podemos retirar os serviços. Depois de muito encerramento, criminosos em alguns casos, o governo lá sentiu a palavra "Basta!" nas pessoas.
 
No campo social o executivo investiu cerca de 150 mil euros. O presidente disse que «há casos dramáticos no concelho». Está surpreendido com o que tem visto?
OA - Estou muito surpreendido. Não contava que a situação fosse tão tremendamente indigna como é em alguns casos. Para assinalar este primeiro ano de mandato, fui, juntamente com uma equipa da Câmara, saudar uma família que vive em condições humilhantes, ultrajantes e indignas. Uma família com oito pessoas que vive num cubículo, sem condições nenhumas. Ficou lá a promessa de que este caso, como outros, irá ter solução muito rápida. Este ano já avançamos com cinco iniciativas no valor de 150 mil euros. Temos mais quatro em curso. Tudo fará com que, ainda este ano, seja ultrapassada a verba de 250 mil euros. No próximo ano iremos aumentar este número porque as situações que têm sido apontadas são verdadeiramente dramáticas.
 
Foram aplicados mais de 100 mil euros no fomento da atividade desportiva. É uma verba simpática ou uma verba significativa tendo em conta a realidade do concelho?
OA - É uma verba simpática porque revela a abertura que temos para estar com quem está a fazer a dinamização social e desportiva. Os clubes são nossos aliados numa dinâmica que eles agarram e desenvolvem muito bem. Temos que ter a simpatia porque temos a obrigação de estar ao lado deles. Temos consciência que a nossa verba não chega para as necessidades. Convém lembrar que foi o Estado que acabou com o associativismo. Até as cooperativas foram por água abaixo. Onde o Estado meter nariz, mais dia menos dia, vai tudo por água abaixo.
 
Como tem convivido com a oposição num ano marcado pela polémica em volta do Serviço de Urgência Básica (SUB) de Montalegre?
OA - Eu convivo bem com toda a gente. Convivo bem com os que me adulam, com os que me batem com as mãos nas costas e com os que me criticam, respeitando todos por igual. Desconfio até mais daqueles que me batem com as mãos nas costas. A situação do Centro de Saúde é uma inventona, uma farsa pobremente montada por quem não tem cabeça para fazer mais nada. É a política no seu expoente mais reles e mais baixo. É a política desenhada por quem de política não percebe nada e que não tem tempo para refletir que o santo pode virar-se contra a esmola ou o feitiço contra o feiticeiro. Estão desmascarados! Devem-me um pedido de desculpa por me envolverem nesta inventona. Devem um pedido de desculpa a todo o povo barrosão por andarem com fantasmas que não existem. De resto, a minha relação com a oposição é de cortesia, de respeito de quem já foi oposição e, felizmente, onde soube ser oposição assumindo ser um agente construtivo e participativo e não um fabricante de factos políticos como aconteceu neste caso.
 
Qual foi o aspeto mais positivo e menos conseguido ao longo do ano?
OA - O mais positivo foi ter sentido - juntamente com os vereadores David Teixeira, Fátima Fernandes, António Araújo e Paulo Cruz - que tivemos capacidade e inteligência para saber estar à altura daquilo que se exigia de nós. Isto acontece numa altura difícil porquanto vínhamos de uma forma muito própria de se fazer politica por parte do professor Fernando, que muito bem governou nos anos todos que aqui esteve. Deixou um legado difícil. Penso que soube estar ao nível daquilo que se exigia de mim e dos meus colaboradores. Soubemos ter a Câmara de Montalegre lá no alto. Sem dívidas, com o pagamento aos fornecedores a 30 dias, com capacidade de realização que permitiu que, em pouco tempo, por exemplo, se fizesse a estrada para o Larouco. Conseguimos ter a Câmara com a mesma visibilidade que tinha. Conseguimos que o país falasse de Montalegre como se vinha fazendo. Isto não é fácil! Não deslustramos, não defraudamos! Continuar a subir exige muita tática e muito saber estar.
Por outro lado, o facto mais negativo é sentir que vivemos num momento tão difícil, que passa pela casa de todos. Abro aqui a porta e vejo a quantidade de pessoas que aparecem aqui expor os seus problemas difíceis e terríveis em alguns casos, que envolvem situações de doença, de abandono, de alguma fome, de carência absoluta, de não haver dinheiro para comprar o pacote de leite para os filhos...isto é terrivelmente desanimador, é castrador de toda a vontade que a gente possa ter para definir um desígnio para a nossa terra...algumas destas situações estamos a intervencioná-las. Mas sentir que não há dia nenhum que não venha aqui gente a pedir emprego, gente a expor situações de divórcio e que deixam as pessoas na maior insegurança e fragilidade... mas isto faz com que tenha uma certa "pica" de tentar engendrar uma palavra de esperança e tentar arranjar alguma forma de ir ao encontro das necessidades dessas pessoas. Uma coisa garanto: estamos aqui a pensar e a trabalhar para as pessoas.
Orlando Alves - 1 Ano de Presidente
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